Em 2013 participei do evento chamado Papo de Autor, que foi a edição campograndense da Semana do Livro Nacional. Durante o diálogo com o público, surgiu a seguinte pergunta: “Vocês acreditam que qualquer um pode escrever um livro?”.
Sem pensar duas vezes, respondi: SIM! E expliquei a minha opinião. Alguns colegas escritores discordaram, o que foi muito construtivo, pois serviu para que ouvíssemos opiniões divergentes sobre o assunto. Entretanto, os argumentos que usaram me levaram a crer que eu não expliquei meu ponto de vista corretamente. E é por isso que resolvi escrever este artigo.
Qualquer um pode escrever um livro?
Sim, o papel em branco aceita qualquer caneta. Mas isso não significa que seja uma tarefa fácil. Escrever um livro exige uma série de atributos que não são inerentes de todas as pessoas, contudo podem ser aprendidos com muito esforço e persistência. Vamos elencar alguns?
Em primeiro lugar, é necessário querer. Por mais interessante que seja, não são todos os que querem escrever. Muitos preferem gastar seu tempo fazendo outras coisas, como descansar, passear, assistir televisão, ler (por que não?), entre outros. E, para que o autor deixe de lado programas atraentes para se dedicar à escrita, é necessário desejar ardentemente compartilhar a emoção de suas histórias. Diga-se de passagem que escrever um livro requer bastante tempo, e é assim que somos levados ao segundo atributo.
Dedicação profunda. Sentar para escrever uma vez por dia não pode ser exceção, mas regra. Da mesma forma, levar um livro do início ao fim, sem ficar pulando de projeto em projeto e deixando para trás uma pilha de obras inacabadas é algo que precisa ser levado a sério. É preciso entregar-se completamente, ao ponto em que o universo da escrita confunda-se com seu mundo real. Ser o que faz.
Com a entrega vem a identificação, o terceiro e último ponto que eu quero salientar. Para que o livro deixe de ser um mero amontoado de palavras e consiga alcançar as pessoas que o lêem, ele precisa ter alma. Não há palavra melhor para definir essa sensação agradável, íntima, quase mágica que a obra é capaz de despertar no leitor. É um pedacinho da alma do autor, que ele cuidadosamente depositou ali para que seja transmitida posteriormente. O autor dentro do livro. Seus pensamentos, convicções, experiências, medos e sonhos. E essa, sim, é a parte imortal da obra. É o legado do autor.
Que tipo de livro?
Tendo resumido os pontos fundamentais para a criação de um livro, vale esclarecer que meus colegas autores não estavam errados. A diferença aqui é na interpretação da pergunta inicial. A dúvida então seria a qual tipo de livro nos referimos: Um livro bom? Um livro publicável? Um best seller?
Livro por livro, qualquer um escreve. O que será dele depois, só Deus sabe. O destino de um livro não depende apenas da qualidade do texto, mas também de fatores midiáticos e mercadológicos. Contudo, o papel primordial do autor não é conjeturar sobre o mercado, e sim escrever! Mesmo que, por fim, o livro não seja reconhecido por uma grande editora ou não receba do público o carinho adequado, o autor fez a sua parte.
Escrever é um aprendizado. Quem mais ganha é o próprio autor, seja na forma de experiência para a criação da próxima obra, seja como enobrecimento para sua vida particular. E a minha opinião é que qualquer um pode e deve escrever. Doar-se. E oferecer, para as gerações futuras, uma herança cultural mais rica.
E você, concorda? Discorda? Escreva a sua opinião nos comentários!
Beijos e sucesso!
Karen Soarele
Originalmente publicado na minha coluna da Bodega Online: link