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O Iluminado de Stephen King

Resenha de ” O Iluminado” 

 

Uma família em crise, um hotel que se isola no inverno e… Stephen KING! O Iluminado é um clássico do cinema. Com as talentosas mãos de Stanley Kubrick e os olhares aterrorizantes de Jack Nicholson, o filme tenta traduzir um pouco do terror que o livro entrega, mas as páginas folheadas uma a uma, provocam uma imersão que só King poderia provocar.

O livro conta a história da família Torrance, com o pai Jack, um ex alcoólatra que luta diariamente contra o vício, Wendy, uma dona de casa amável, mãe atenciosa e esposa atormentada pelos atos passados do marido, e o filho do casal Danny, que tem o poder de prever o futuro e habilidades extra-sensoriais.

Jack foi demitido de seu emprego como professor depois de perder o controle e agredir fisicamente um aluno. O rapaz havia furado os pneus de seu carro após uma aula na qual os dois se desentenderam.

O prazer que a bebida oferece é um lembrete diário da fuga fácil que a sobriedade lhe rouba, e ele luta contra essa vontade toda vez que seus planos traçados sofrem uma mudança, ou seu lado violento dá as caras.

Wendy é dona de casa e passa o tempo cuidando de Danny, tentando esquecer o Jack alcoólatra e violento que ainda a torturava suas lembranças. Ela se banha diariamente de esperança, torcendo para que a família Torrance se torne a família de comercial de margarina que ela sempre sonhou.

Sem opções de trabalho, se afundando em dívidas e com o nome sujo no meio acadêmico, Jack procura a ajuda de um amigo de seu passado recente, com quem dividiu bebidas, tombos e uma tragédia, para conseguir sustentar sua família.

A solução conseguida foi tornar-se responsável pela manutenção do Hotel

Overlook durante os meses de inverno, quando a neve se espalhava pela montanha, isolando o hotel e seu zelador de qualquer contato humano.

O trabalho vem a calhar, já que Jack procura tempo para terminar sua peça, na qual deposita seus sonhos e o futuro da família Torrance. Tempo é o que não faltaria durante os meses de frio. O único erro foi achar que estariam isolados.

O hotel Overlook os recebe de braços abertos (e não é uma expressão) e lhes apresenta seu passado em forma de fantasmas, assombrações e pavor. Danny, que a princípio é o único afetado pelas visões, sofre com a pressão de conhecer o futuro, assistir sem poder influenciar o presente e temer a violência que sofreu no passado.

Um ganho grande que o livro tem sobre o filme, além das mudanças importantes na história, é a queda gradual de Jack. Ao contrário do maluco que é apresentado logo nos primeiros sorrisos de Nicholson, Jack é um cara normal, com problemas normais, tentando ganhar controle em cima de seus desejos.

A bebida parece ser um problema solucionado, e o descontrole emocional, que interfere diretamente em sua vida, parece algo que vai lentamente sendo dominado. Seus medos do passado estão guardados em um armário, com uma porta fina e sem cadeado, e vão aparecendo aos poucos durante a história.

 

Nem tudo são mil maravilhas. Algumas vezes, as descrições de King tornam-se pesadas e maçantes, e cenas que deveriam apenas apresentar o capítulo, tomam um tempo desgastante.

O terror também demora a se desenrolar, e vejo como motivo claro, a preocupação de King em ambientar os personagens, com o hotel e principalmente, com todo o psicológico por trás da armadura que uma visão superficial te traz sobre a família Torrance.

Isso nem de longe faz o livro ser ruim, mas, às vezes, faz lembrar que você está lendo há duas horas, e precisa dormir, comer ou qualquer outra coisa que te motive a deixar algumas páginas para depois.

O fato DEFINITIVAMENTE não acontece no final do livro, tomado por tensão, fazendo com que você tenha medo de olhar por cima do livro, e enxergar uma festa de luxo, arbustos se movendo ou homens e mulheres há muito mortos, fantasiados em um baile de máscara que nunca terá fim.

 

Essa mistura de sucesso tem uma pitada de descrições imersivas (por vezes um pouco longas), clichês de fantasmas (muito) bem aproveitados e momentos nos quais King toma o controle do seu cérebro, fazendo com que você precise olhar algumas vezes em sua porta para ter certeza que não está no quarto 217.

Eu particularmente sou suspeito para falar de King, mas esse livro é tão fantástico em ser aterrorizante, que merece os holofotes. A história é bem amarrada e os personagens são cativantes (até os que, a princípio, são apenas personagens secundários, como Dick Halloran que é um dos meus favoritos). A descrição das cenas é assustadoramente precisa, e fazem o hotel, que outrora fora em sua mente um depósito de luxo e riqueza, começar a ganhar vida, tornando-se sombrio e assustador.

Para quem é fã de terror, essa obra é obrigatória em sua cabeceira, e para quem não o é, o suspense em cada página vai te cativar de maneira absoluta.

Esteja pronto para suar, respirar fundo e, entre uma cena e outra, tomar uma água bem gelada para ter certeza que está em segurança. Mas aconselho a não acender a luz. No escuro, talvez o Overlook lhe faça uma visita inesperada…