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A Trilogia do Mago Negro I – O Clã dos Magos (resenha)

Postado originalmente no Cultura Nerd e Geek, em 18/08/2016

Em um mundo de fantasia marcado por grandes desigualdades sociais, Sonea, uma garota favelada, descobre ter poderes mágicos que por lei só podem ser encontrados no Clã dos Magos, cujos membros vem sempre das classes mais abastadas. Passando a ser procurada para ser treinada enquanto acredita estar fugindo por sua vida, é colocada em riscos que jamais imaginava possíveis.

Escrito pela australiana Trudi Canavan, O Clã dos Magos (2001) é o primeiro volume de uma trilogia de fantasia nos moldes clássicos. Temos aqui a protagonista aparentemente insignificante que descobre ter um grande destino, a saída de um mundo conhecido para algo completamente novo, as inseguranças de quem não sabe se está preparado para assumir o papel que o destino reservou e um mundo mágico e fantástico diferente daquele do leitor.

Esse mundo é bastante bem construído, por sinal. As comidas, bebidas, fauna e flora são próprios do livro e com nomes criados pela autora. As culturas de cada grupo que formam o mundo apresentado nesse livro são bem caracterizados e o choque entre as diferentes camadas sociais, apesar de serem as típicas que encontraríamos numa obra mais realista, fazem completo sentido dentro desse universo.

Canavan é uma pessoa criativa que conseguiu criar uma boa história, mas a sua escrita, pelo menos na tradução para o português, em alguns momentos deixa a desejar. Foi muito difícil passar das primeiras 150 páginas porque os personagens não eram definidos com muita clareza, deixando muito complicado em algumas partes saber quem fazia ou dizia o que.

A narrativa muda de ponto de vista várias vezes em cada capítulo, com o foco principal em Sonea, e por conta disso o livro deixa para explicar alguns elementos apenas quando a garota os conhece pela primeira vez. Passamos então dois terços do livro lendo sobre diversos acontecimentos diretamente ligados às regras e costumes dos Clã dos Magos, como a hierarquia, o uso dos poderes e a organização das buscas, sem que qualquer desses elementos seja apresentado direito antes do terço final. Os termos mantidos na língua do povo do livro também não são explicados durante a narrativa, forçando o leitor a buscar num glossário por uma definição curtíssima de algo que poderia muito bem estar dentro da própria história.

Apesar disso, assim que o leitor consegue ultrapassar esses problemas, a leitura flui de forma deliciosa. Os personagens são carismáticos e interessantes, os comentários sociais nunca soam forçados e o volume acaba deixando muita curiosidade para saber o que virá em seguida. Não é o melhor livro de fantasia que já li, mas se você gostar do gênero e conseguir sobreviver ao primeiro terço da história, tem em mãos uma obra divertida com uma história que foi claramente feita com bastante capricho.